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O que cabe no silêncio?

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         "O que cabe no silêncio? Já pensou quantas hipóteses, quantas confabulações podem ocorrer com o simples silêncio? O silêncio tem muitas coisas interessantes. Por exemplo, para quem está a viver o silêncio, pode estar a fazer uma imersão nos seus pensamentos, nas suas atitudes, no que gostaria de realizar. Mas, acima de tudo, é silenciar a tua alma, o teu espírito, e procurar dentro deste silêncio encontrar a tua essência, não é? Aquilo que te faz bem, aquilo que te faz ser único e não apenas mais um na multidão.

        Por outro lado, para quem está a aguardar uma resposta, para quem está na expectativa de que tu possas estar a manifestar qualquer atitude, qualquer gesto, esse silêncio pode ser, e é, extremamente desafiador. Pode tornar-se algo muito difícil para quem está à espera de uma resposta. Então, para quem está à espera de uma resposta que não vem, cabem aqui algumas reflexões. Por exemplo, o outro está apenas em silêncio. O que é que isso significa? Pode significar muitas coisas: apenas porque queres ficar sozinho, porque queres o silêncio, porque não tens algo mais para acrescentar naquele momento, naquela situação, porque talvez não faça mais sentido manifestar, falar alguma coisa, porque estás a viver uma situação, a experimentar uma situação onde precisas de ficar voltado para esse silêncio, para esse ouvir sobre as tuas próprias necessidades. A pessoa que está à espera, o outro lado, não é? Que está à espera de uma manifestação, uma palavra, torna-se uma eterna angústia, gerando muitas coisas negativas, não é? Porque nesse momento, tu que estás à espera de uma palavra, não pensas no outro como um ser que tem a sua vida, as suas necessidades, as suas carências ou não. Estás sempre a projetar, de um modo geral, que o outro é aquela pessoa que deve estar ali de alguma forma, pronto, disposto a responder às tuas questões, às tuas necessidades.

        Em resumo, o que é que podemos aprender, tirar desta situação para não entrar em desespero? Acredito que a chave principal seja: o silêncio não é comigo, é dela, é do outro. Quando consegues perceber isso, já eliminas uma grande parte da tua angústia, das tuas perguntas, das tuas interrogações. Quando consegues entender que o outro, embora muito íntimo, embora sempre tenha partilhado uma vida, é um ser com a sua independência, com as suas características, e que ficar em silêncio não significa que é algo contra ti. Até porque a vida do outro não se resume à tua presença, à relação que tem contigo. Talvez o choque seja perceber exatamente isso: quando o outro não responde, tu começas a perceber que não és o centro da situação, que existe uma vida, existem outras vontades, existem muitas outras coisas. E aí, acredito eu, vem o presente de tudo isto, que é tu aproveitares para também fazer essa auto-reflexão, para te perceberes, saber do que gostas. Porque, às vezes, num relacionamento, vais-te anulando, sendo lançado, e quando percebes, já não sabes mais quem és, não é? Não respiras se o outro não respira, é como se não existisses. Então, o silêncio também te fortalece, traz essa possibilidade de olhares para ti como um indivíduo, de olhares para o outro como um ser único, com as suas qualidades, com os seus defeitos, tal como tu. Já pensaste sobre isto?"

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